THE WHITE COUNTESS (A Condessa Russa), de James Ivory (GBR - 2006)
The White Countess, A Condessa Russa, de James Ivory (GBR - 2006)
Ivory, já sem a sua musa inspiradora, entretanto infelizmente falecida, a escritora Ruth Prawer Jhabvala, mas com o seu produtor de há um quarto de século – Ismail Merchant, não desilude, antes pelo contrário, em mais uma magnífica reconstituição de época.
Desta vez, trata-se de Xangai, em meados dos anos 30, à beira da 2ª Grande Guerra, com a capitulação das potências ocidentais perante o avanço do fascismo, e em que a colónia que então era a China, se encontra em grande ebulição, com as forças revolucionárias dirigidas pelo Partido Comunista, incrementando a luta pela libertação do seu país do império colonial britânico, ao mesmo que o vizinho Japão, aliado do fascismo, se prepara para invadir a China.
A estória, baseada num romance do grande escritor japonês Kazuo Ishiguro, passa-se no seio da comunidade emigrante dos russos brancos, fugidos da Revolução de Outubro de 1917, à mistura com diplomatas ocidentais e representantes do poder colonial, até pequenos comerciantes judeus fugidos da Europa, aterrorizados com o crescente anti-semitismo, que em breve irá conduzir aos campos de extermínio, às câmaras de gás e ao holocausto nazi.
Quando a invasão dos fascistas nipónicos se inicia, a comunidade russa tenta escapar, para Hong-Kong, de preferência, para continuar sob protecção da coroa britânica. E não hesita em desfazer-se dos membros da família que pensa poderem vir a ser prejudiciais na nova situação.
A ainda jovem e antiga condessa (a fascinante Natasha Richardson), que é afinal o único elemento da família a sustentá-la em Xangai através do trabalho, prostituindo-se num bar de luxo para estrangeiros, será a principal preterida, abandonada numa Xangai invadida, para que a alta sociedade que esperam encontrar em Hong-Kong, que lhes restituirá parte da grandeza anterior, não a aponte como ”mau exemplo” , prejudicando-lhes esse desejado regressa ao passado porque anseiam.
É o espírito de classe deste tipo de gente, que Ivory sublinha ironicamente.
Magnífico desempenho dos actores, com realce para Ralph Fiennes, no ex-diplomata americano que cegou, que consegue salvar Natasha e a pequena filha (Lynn Redgrave) e Vanessa Redgrave (na fraca e aristocrática tia, aparentemente com alguns laivos de humanidade, mas para quem o status social acaba por prevalecer).
Curioso que, embora a acção se passe entre os exilados russos brancos, nem assim Ivory suscite uma ténue simpatia por parte da crítica mais conservadora, que se entretém a chumbar o filme com os chavões habituais.
Sobre a história em pano de fundo, resta acrescentar para os mais esquecidos que o imperialismo japonês, aliado do nazismo, sairá derrotado da Grande Guerra em 1945, sendo o Japão ocupado pelas potências ocidentais. Na China os revolucionários – Partido Comunista - em breve tomarão o poder (1 de Outubro de 1949) rechaçando os representantes das potências ocidentais (Kuomitang) para a Formosa (Taiwan).
Colombo, 5abr06

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