LADY CHATTERLEY, de Pascale Ferran (FRA - 2006)



“LADY CHATTERLEY”, de Pascale Ferran, (FRA - 2006)

Uma adaptação brilhante de outra obra-prima, “O Amante de Lady Chatterley” (1928), de D.H.Lawrence (1885-1930), sendo conhecido o escândalo que a obra à época constituiu.

Não vimos infelizmente nenhum dos anteriores trabalhos desta cineasta, aliás nunca exibidos em Portugal, apenas lemos sobre a sua qualidade. 

Obviamente, depois da visão desta obra-prima que é “Lady Chatterley”, passa a ser um dos nomes do cinema actual, de que não quereremos perder obra.



Não vou repetir o que pode ser lido em todos os jornais e revistas da especialidade, sobre este enorme sucesso de público e crítica, vencedor este ano do grande prémio do cinema francês (os Césares), em várias categorias, entre elas o melhor filme francês de 2006. 

Chamar a atenção apenas para o, também brilhante, discurso de Pascale Ferran, lido na cerimónia de distribuição dos prémios (e publicado na revista POSITIF de Junho), em defesa da cultura e dos trabalhadores, nomeadamente dos precários (les intermittents) da indústria do cinema e não só (“et on en arrive à une absurdité complete du système où, sous couvert de résorber un déficit, on exclut les plus pauvres pour mieux indemniser les plus riches”, que se aplica como uma luva aos Barrosos, Portas, Sócrates e Cavacos, da actual vida política nacional). 

Pascale, chamou depois ao palco todos os seus colaboradores presentes (e eram muitos…) para receber consigo o prémio, revelando uma postura invulgar.

Mas sobre a obra, que não se esgota numa única visão, chamar a atenção apenas para a maneira subtil como faz apologia do amor humano, em que as cenas do amor físico, do prazer e da nudez, nunca parecem excessivas, porque o amor humano de que a cineasta faz o elogio, se baseia num respeito mútuo e numa delicadeza de relações, como se a ética devesse estar presente em todas as actividades do ser humano (e em alguns - muitos espero, felizmente está). 

A fortíssima ligação à natureza, da obra e dos seus personagens, que a cineasta dá primorosamente, através das suas imagens, belíssimas, e sempre em tempo certo, da vida nos bosques onde os amantes se encontram, nunca conduz ao “animalesco” em detrimento do animal. (*)




Uma obra-prima, não só pela beleza da linguagem cinematográfica utilizada, mas, principalmente, pela sua inteligência.

17-Jun-2007

(*) Nota à posteriori - Sei bem o quão controversa pode ser esta frase mas preferi mantê-la tal como está no texto original. Apenas salientar que em minha opinião os autores (a cineasta, o escritor) exaltam o amor humano em confronto com as  hipocrisias pretensamente moralistas, tal como o fazem outros grandes autores, e cito por exemplo Urbano Tavares Rodrigues em alguns dos seus últimos e também admiráveis romances.





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