GOOD NIGHT AND GOOD LUCK (Boa Noite e Boa Sorte), de George Clooney (2006)



“Good Night and Good Luck” (Boa Noite e Boa Sorte), de George Clooney (EUA - 2006)

Confesso que me surpreendeu esta obra, pelo seu indiscutível interesse e pela sua magnífica qualidade, passando para já ao topo das minhas preferências de 2006. Por favor não percam!

George Clooney realiza a preto e branco (fotografia tal como em Syriana, de Robert Elswitt), o que lhe permite, entre outras coisas inserir brilhantemente documentos de época, essenciais para o entendimento do filme. O resultado é magnífico e convincente, embora já conhecêssemos a história da época mas não os jornalistas que neste filme aparecem. 

Clooney, decerto modo faz o mesmo que o jornalista da CBS que retrata – Edward R.Murrow (grande interpretação de David Strathairn, que considero indiscutivelmente superior à de Hoffman em Capote, pelas razões já expostas – imitação (Hoffman) para mim está noutro patamar), isto é, serve-se das próprias palavras do senador McCarthy, para demonstrar  a paranóia anticomunista deste, a qual irá dar origem a uma época de caça às bruxas, de repressão e medo, de contornos claramente fascizantes.



Mas a verdade é que a situação de então se assemelha, e muito, à actualidade da vida estado-unidense, com o mesmo tipo de políticos, de ideologia semelhante – extrema direita de contornos fascistas - no poder.

Mas esta avalanche de filmes políticos, que surge principalmente a partir da reeleição do Bush (depois do extraordinário exemplo anterior de Michael Moore, com as suas obras-primas do documentário), filmes profundamente empenhados na luta contra o governo e na restauração das liberdades democráticas, que Bush e seus acólitos tinham posto em causa, mostra que os norte-americanos estão a perder o medo e são sintoma que os ultra-conservadores poderão cair a curto prazo. 

A menos que consigam lançar outra escalada de violência – contra o Irão ou seja contra quem for – e consigam retomar o regime de terror que criaram após o 11 de Setembro. 

Embora nada disso, e não podemos esquece-lo, vá substancialmente alterar o poder económico do grande capital. Só quando este for posto realmente em causa poderemos esperar o surgimento de uma nova América, mais democrática e de acordo com o sentir de milhões de norte-americanos. De qualquer modo não deixa de ser animador verificar que inteligência progressista nos EUA volta a fazer-se ouvir nos grandes meios de comunicação.

Uma pequena nota mais: 
Analise-se a frase seguinte e os seus objectivos de desculpabilização do McCarthismo: - “Quanto à representação diabolizadora de McCarthy pela indústria cinematográfica americana (…) a vasta literatura de investigação existente sobre a extensão e as intenções comunistas em Hollywood durante a Guerra-fria, introduz um número de nuances que contradizem o preto e branco deste filme.” (de uma crítica de Eurico de Barros, ao filme, ao qual concede um modesto **, DN, 3mar06). Eis a razão porque este tipo de críticos “chumba” o filme”, aliás na linha das teorias negacionistas dos crimes nazis, que também perfilham.

Quanto às palavras finais de Murrow, na homenagem pública que lhe fizeram em 1958 (depois da morte de McCarthy, alcoolizado após a derrota política), parecem dirigidas à comunicação social que temos em Portugal em 2006. 

Ajudava também ter uns quantos jornalistas com a qualidade e a fibra daquele para arrostar e fazer frente ao poder dos grupos económicos que controlam jornais, rádios e televisão deste início do século XXI. E talvez eles fossem obrigados a algumas cedências democráticas. A não perder.

Nota:

Observem este mimo com que se fecha uma crítica (?) de cinema num jornal dito de referência (Pedro Mexia, DN, 17fev06, a propósito de ”Syriana”, que obviamente, dado o reconhecido reaccionarismo de Mexia, o dito cujo chumba sem apelo nem agravo)!!!

“um Clooney desfalcado em glamour sexual mas que ganha mais uns pontos no seu currículo de esquerdista atraente. Convenhamos: antes Clooney que Moore.” 

Mais ou menos como se, descontadas as devidas diferenças, nós disséssemos que o filme A é melhor que o B (e em que nenhum dos dois tem nada a ver com sexo) porque achamos que a Emmanuelle Béart é mais sexy do que a Isabelle Hupert!

Assim vai alguma dita crítica de cinema neste “país à beira-mar plantado”, embora também é verdade que estamos perante um texto de um comentador especialista em disparates, alguns ignóbeis, e são esses principalmente que nos indignam!

Monumental, 10mar06




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