TRANSE, de Teresa Villaverde (2006)
TRANSE (2006), de Teresa Villaverde
Outro grande filme de Teresa Villaverde. O melhor? Será difícil dizê-lo, até porque gostei muito dos dois anteriores, “Os Mutantes” e “Água e Sal”.
Mas é sem dúvida, pelo menos para mim, o melhor filme português deste ano, apesar do também magnífico “O Espelho Mágico”, de Manoel de Oliveira.
Como sempre a cineasta faz do seu trabalho uma obra de arte, com meia dúzia de sequências duma beleza, ainda que trágica, absoluta, mas também fez uma obra social e politicamente empenhada, denunciando o tráfico de mulheres na Europa.
A principal personagem do filme, Sónia (outra admirável interpretação de Ana Moreira, que penso que é uma das grandes intérpretes do cinema mundial neste momento), jovem russa de São Petersburgo (a urbe báltica que já foi Leninegrado - a belíssima cidade soviética de onde, noutros tempos, a miséria fora erradicada), emigra para a Alemanha, deixando para trás um filho, com a esperança de um dia poder voltar sem a miséria que a leva a sair de casa.
É o calvário de muitas mulheres do leste europeu, a quem os novos poderes fazem hoje pagar pela coragem dos seus antepassados de há um século atrás, escravos do capitalismo, que ousaram lutar, destruir correntes, vencer, e libertos construir uma pátria, onde durante décadas o Socialismo floresceu. E em que, com os capitalistas, a burguesia, os padres, foram também varridos os males sociais a eles ligados – a miséria, a marginalidade, a prostituição, a droga. Tudo infelizmente voltou. Como existia e existe cada vez mais pelo resto da Europa. Até quando?
Na Alemanha, Sónia trabalha e é explorada, até ser raptada por uma rede de escravatura sexual. Aí inicia-se a terrível odisseia que a levará, sempre acorrentada e violentada, através de bordéis e casas de alterne, da chamada Europa comunitária. Transformada no que os neoliberais querem agora rotular (e legalizar) de trabalhadora do sexo (como o Salazar e o Cerejeira faziam no seu tempo, com os lupanares que o segundo, dizia-se, explorava em sociedade).
Mas Sónia mantém sempre, apesar das violências a que é sujeita, a esperança de libertação. Numa fuga interior que a mantém viva. Em transe, para sobreviver. Resta, no final, em aberto, a esperança ao espectador que, desta vez, alguém consiga escapar a estas tenebrosas organizações, que a banca e não só, amparam carinhosamente.
Retrato terrível dos tempos que correm, que alguns, preferem ignorar, fechando os olhos perante a realidade que pode não os atingir directamente, mas que os cerca. É o egoísmo humano na sua forma mais degradante.
Há quem acuse de filme de elíptico, com o mesmo disparate como, de outras vezes, os mesmos, fazem o elogio da elipse cinematográfica, em produtos menores! O costume…
Felizmente alguns críticos reconheceram nele a obra-prima que penso que é:
“Até porque «Transe» não é uma história. É uma obra de arte” (Rodrigues da Silva, JL, 27set06).

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