THE BIG HEAT (Corrupção), de Fritz Lang (EUA - 1953)



Big Heat (The) (Corrupção) (1953), de Fritz Lang, (EUA)

Vista na Cinemateca esta obra-prima do cineasta de origem austríaca (Viena, 1890 - Los Angeles, 1976), magistral autor de “M (Matou)” (1931), entre outras obras máximas do Cinema, que fugiu ao Nazismo, emigrando para os EUA.

João Bénard da Costa chamou-lhe na folha de sessão “vertiginosa parábola ética”. E estou completamente de acordo. 

A história do polícia Dave Bannion (Glenn Ford) que, após o suicídio de um polícia corrupto e os assassinatos brutais que se seguiram de eventuais testemunhas da corrupção policial, incluindo o atentado à bomba contra Bannion que vitima mortalmente a sua mulher Katie, luta contra os sindicatos do crime, controlados pelo gangster Mike Lagana (Alexander Scourby) e ao mesmo contra a corrupção nos comandos das forças policiais, que ajudam à impunidade dos bandidos, esta história mostra a evolução ética do comportamento de Bannion, para além de estar contada de uma maneira brilhante.



Nesta obra, o tema principal, ao contrário do que se pode ler noutras críticas, não é o do herói solitário, que resolve fazer justiça pelas próprias mãos, de um modo algo fascizante. Bem pelo contrário, como Benárd da Costa chamou a atenção. Bannion acaba apoiado por amigos e por polícias honestos, que lutam contra o crime e a corrupção, e apesar do desejo de vingança da morte da mulher, a sua ética não lhe permite utilizar a violência cega contra os seus inimigos.

Sendo um filme do início da década de 50 do século passado, acaba por ser moderno na abordagem do tema, e particularmente para nós portugueses, que não conseguimos esquecer a história recente do ministério Barroso/Portas (PSD/CDS) e da sua encarregada Celeste Cardona (CDS), com a cínica manipulação política que fizeram da justiça, nomeando sequazes para controlarem as forças policiais. Ou a corrupção galopante dos últimos anos, que assola o país, em vários domínios, até no espectáculo desportivo, com a conivência de alguns governantes, políticos e juízes.

O filme tem alguns momentos admiráveis – a cena em que o gangster interpretado por Lee Marvin atira café a ferver à cara da amante Debbie Marsh (Gloria Grahame), ou a vingança desta, pelos mesmos meios, desfigurando Marvin ou, por último, a cena da morte de Gloria Grahame, atingida por Marvin, e o último diálogo desta, já moribunda, com Glenn Ford, ajoelhado junto dela. A actriz atinge neste filme talvez a mais sublime das suas interpretações. A jovem que estava à minha frente não conseguiu disfarçar a emoção, com soluços, a custo contidos, à saída da sala principal da Cinemateca. Uma obra-prima inesquecível. 

Cinemateca, 9abr05

Comentários

Mensagens populares deste blogue

PROPÓSITOS

IL SECRETO DE SUS OJOS (O Segredo dos Seus Olhos), Juan José Camapanella (ARG - 2009)