SARABAND (Sarabanda), de Ingmar Bergman, SUE (2003)



SARABAND (Sarabanda), de Ingmar Bergman, (SUE – 2003) 

Sarabanda – dança de origem espanhola ou árabe. “Tão lasciva nas suas palavras, tão impúdica nos seus movimentos, que é suficiente para incendiar os sentimentos mesmo das pessoas mais honestas” (Padre Mariana, 1563-1623) e por isso proibida em tempos de inquisição no reinado de Filipe II de Espanha. Embora a que se oiça no filme seja de Bach. 

De um dos grandes Mestres da Sétima Arte, já com mais de 80 anos, embora com longo hiato na sua obra fílmica (cerca de 20 anos desde o último filme, mas activo no teatro, na televisão, na escrita), uma nova obra de grande qualidade. O autor recusa todavia para ela o termo sequela, embora retome os personagens e actores principais, de “Cenas da Vida Conjugal” (1973), trinta anos mais tarde (2003).

Ingmar Bergman considera que “a possibilidade de nos acercarmos dum rosto humano é sem dúvida a originalidade primeira e qualidade distintiva do cinema” (citado por A.M.Seabra). 

Em “Saraband”, mais que em outros filmes do cineasta, são os grandes planos, centrados nos rostos das suas personagens, que constituem o núcleo principal da obra. E os diálogos/ monólogos. 

E ambos nos cercam avassaladoramente, na dança, ora lenta ora rápida, como uma sarabanda, que entrelaça os quatro personagens principais e mais alguns ausentes que eles não conseguem esquecer e dos quais só veremos fotografias, planos fixos de rostos afinal, enquanto tentamos entender as personagens, os seus dramas íntimos, a perversidade e o amor, os remorsos e a culpa, que o fim dos tempos de cada um de nós traz quase sempre à tona. Do que fizemos, ou talvez mais do que não fizemos.

Liv Ullmann (Marianne) vai visitar o ex-marido, Erland Josephson (Johan), muito mais velho que ela e no final da vida. E encontra o filho deste Henrik, cuja mulher Anna, que todos amavam, falecera de cancro, a viver com a filha Karin (Julia Dufvenius), uma jovem violoncelista que Henrik ensina. No final Marianne visitará ainda uma das duas filhas que teve de Johan, Martha, que é uma doente mental profunda, mas não conheceremos a outra, Sara, que vive na Austrália. 



Em sucessivos capítulos, os quatro – Marianne, Joahn, Henrik e Karin -, vão-se encontrando aos pares, em diálogos quase sempre tensos quando não violentos. Apenas uma vez a câmara de Bergman se afasta dos rostos, para acompanhar a fuga de Karin através da floresta após uma violenta discussão com o pai, que a não quer deixar partir. Como muitas vezes em Bergman, a paternidade é austera, repressora, castradora, mas os jovens acabam, também por libertar-se, através da revolta, embora fiquem as marcas. Karin liberta-se, como será em adulta?

Resta acrescentar que, como alguém já afirmou a propósito de Bergman, o sueco é a língua mais cinematográfica que existe. 

Alvalade Millenium, 19jan05

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