O CARTEIRO DE NERUDA, de Carlos Porto / Antonio Skármeta, Joaquim Benite, CTA (2012)
O CARTEIRO DE NERUDA, de Carlos Porto, em adaptação do romance de Antonio Skármeta, encenação de Joaquim Benite, para a Companhia de Teatro de Almada, no Teatro Municipal de Almada, interpretação de André Gomes (Pablo Neruda), Bernardo Almeida (Mário Giménez, o carteiro poeta), Celestino Silva (o deputado de direita), Maria Frade (D.Rosa), Melânia Gomes (Beatriz González), Miguel Martins (Cosme, o chefe dos Correios), nos principais papéis.
Espero que alguns das Amigas e Amigos não tenham falhado esta obra-prima, uma vez mais exibida no TMA!
Alguns anos depois revimos este magnífico espectáculo de Teatro. Adaptação de Carlos Porto, do romance célebre do chileno Antonio Skármeta (escritor que recebeu o prémio Planeta 2003), já adaptado duas vezes, e excelentemente, ao cinema, pelo próprio Skármeta: “Ardente Paciência”, realizado em Portugal, com vários prémios em festivais de cinema e depois por Michael Radford, num grande sucesso comercial em todo o lado, com três anos de exibição ininterrupta em Lisboa.
Magnífica adaptação ao teatro, pelo nosso Carlos Porto, com muita inteligência, e com muita emoção também. Encenação brilhante (como quase sempre) de Joaquim Benite. Grandes interpretações, embora alguns actores tenham mudado em relação a anteriores representações, mas a elevadíssima qualidade mantém-se.
Especial saliência para André Gomes, que se mantém desde a estreia da peça em 1997 no velhinho Teatro Municipal, (pequena sala com cento e tal espectadores, para os mais de quatrocentos actuais, que encheram, suponho que quase sempre, a grande sala do TMA e que aplaudiram, de pé, num longo e comovido aplauso este extraordinário espectáculo), André Gomes que nos conseguiu dar toda a dimensão humana do grande Poeta, seguramente um dos maiores de sempre, mas também um cidadão empenhado nas lutas pelas melhoria das condições de vida do seu Povo e dos Povos em geral, poeta comunista que transmitiu também nos poemas que escreveu os seus ideais de fraternidade, de igualdade, e de liberdade para os Povos.
Tema que nos é particularmente caro, o do Sonho do Chile da Unidade Popular, com Salvador Allende como Presidente da República (de curta duração é certo, devido à traição de alguns militares, com Pinochet à frente, manipulados pelo imperialismo ianque, símbolo do que de pior existe na natureza humana, que é a traição e o desprezo pelo seu semelhante).
Através da figura e das palavras de um dos nossos poetas mais queridos – Pablo Neruda, mas também um apólogo sobre algumas das coisas que o Homem tem de melhor – a Fraternidade, o Amor, a Sensibilidade perante a Natureza, que às vezes se transforma em Poesia, e que Neruda nos legou magistralmente nos seus poemas. E também a admirável aprendizagem do poeta em formação que é Mário, aprendizagem acima de tudo humana, com um mestre como Neruda!
Admirável peça, esta, que não me canso de rever. Termina é certo tragicamente, mas o Sonho, esse permanece, e permanecerá, enquanto o Homem for Homem. E estou confiante que, um dia, voltará de novo a ser realidade por muitos mais lados.
Antonio Skármeta, Carlos Porto, Joaquim Benite, e os seus actores, pela vibração que puseram na obra, fazem-nos também crer que sim.
Post-scriptum (como nas cartas do Poeta): razões familiares impediram-me de estar presente no convívio/debate com os actores, realizado no foyer, e que se seguiu ao espectáculo. Dizem-me que foi muito bom. Tenho muita pena de não ter assistido!
Almada, 5-Fev-2012

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