THE LUSTY MEN (Idílio Selvagem), de Nicholas Ray, EUA (1952)



The Lusty Men (Idílio Selvagem), de Nicholas Ray, 1952 (EUA)

De um dos cineastas que mais aprecio uma obra-prima inesquecível.

Vi-o pela primeira e única vez antes de hoje, nos anos 50. Havia estreado em Lisboa em 53. Tê-lo-ei visto, não na estreia mas num dos então chamados cinemas de reprise, nos infelizmente já desaparecidos Stadium em Algés, ou talvez no Cinema Restelo (já existiria?). Teria portanto 15 ou 16 anos. A verdade é que foi uma obra que então me impressionou fortemente e sempre permaneceu na minha memória (só bastante mais tarde verifiquei que afinal havia sido realizada por Nicholas Ray, o que me agradou muito, diga-se de passagem). 



E 50 anos depois, antes de rever o filme, qual era cena que tinha melhor gravada na memória? Aquela, logo no início do filme, quando Jeff (Robert Mitchum), ferido num acidente num rodeo, regressa à casa onde nasceu, e onde já não tem ninguém (o pai morrera entretanto), e procura debaixo do sobrado as “relíquias” que lá guardara quando criança. Admirável cena, para a qual Wim Wenders chamou aliás a atenção no filme homenagem que fez a Ray, pouco antes da morte deste, em “Lightning over Water”.

O filme tem pelo menos uma dúzia de sequências admiráveis, que ainda hoje nos emocionam pela beleza dos planos e representação dos actores, a começar na cena inicial, à saída do espaço do rodeo, ao anoitecer, findo o espectáculo, o campo vazio, juncado de papéis que o público deixara, o cowboy ferido (Jeff), arrastando-se para a saída, vencido e solitário e, numa das cenas finais, ainda com Jeff, moribundo, depois do seu regresso trágico ao rodeo (para provar o quê e a quem? A si próprio, disse ele), perante o desespero de Louise (Susan Hayward), um amor apenas esboçado, mas impossível. Antes de outro regresso a casa – mas agora do casal reconciliado Louise / Wes, depois da trágica morte do amigo.

Falar do grande actor Robert Mitchum, aqui numa das suas maiores interpretações, esquecendo Susan Hayward (Louise), Arthur Kennedy (Wes) e Arthur Hunnicut (Booker) seria injusto. Os dois últimos são aliás dois actores secundários que não nos lembramos de ver representar mal.

Também seria injusto (mas não o vejo referido em lado nenhum...) esquecer que Horace McCoy (1897-1955), o escritor e argumentista, autor dos inesquecíveis “No Pockets in a Shroud (O Pão da Mentira)”, “Scapel (Bisturi)” ou “Os Cavalos também se abatem”, obras de denúncia sem contemplações da corrupção na sociedade norte-americana, assina o argumento. Dos seus livros surgiram aliás vários filmes, entre eles, o de Sidney Pollack “Os Cavalos também se abatem” e o de Gordon Douglas “Kiss Tomorrow Goodbye”. No entanto sobre a sua curta obra, já que faleceu prematuramente, permanece nos EUA, e nos seus “acólitos”, uma pesada cortina de silêncio, a fazer lembrar a fascizante época mccarthista, e que muitos (nos próprios EUA) temem que esteja de regresso (consultar internet).

“Lusty Men”, filme sobre os sonhos dos homens, dos que normalmente não vencem, porque querem ser justos.

Visto na Cinemateca, 27out05. Texto escrito nessa data

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