KAMCHATKA, de Marcelo Piñeyro, (ARG - 2002)
Kamchatka (2002), de Marcelo Piñeyro (ARG)
Como se pode explicar que um filme tão belo como este seja completamente ignorado pela crítica dos jornais (com as pouquíssimas excepções do costume)?
Não vi uma única referência a esta obra notável do cinema argentino, concorrente ao Óscar do melhor filme estrangeiro, nos jornais que a si próprios se intitulam de referência (?). Nem uma chamada de atenção no quadro das estrelas do DN, onde entre 20 filmes citados, só 5 ou 6 merecerão uma visão, ou do Público, entre 12 citados, apenas 5 ou 6 eventualmente me interessariam.
Talvez a razão do mistério resida no argumento do filme, que se passa num dos mais sombrios períodos da história argentina recente – a ditadura fascista, do general Videla e outros militares, nos anos 70 e 80 (semelhante ao golpe fascista de Pinochet no Chile, ambos apoiados e financiados pela CIA), visto através dos olhos de uma criança cujos pais, ameaçados pelo regime, fogem e se escondem, até que são forçados a deixar os dois filhos com os avós paternos. Não regressarão, indo engrossar a lista dos milhares de simpatizantes de esquerda, ou apenas democratas, assassinados pelos militares fascistas.
Tudo isto é apenas entrevisto pelos olhos de uma criança, que desconhece o que se passa, e pela cultura do espectador. A violência brutal do regime, os crimes que cometeu, só nos chegam pelos seus reflexos na vida daquele casal em fuga, mas não deixam de ser por isso menos repugnantes. Admiráveis interpretações de Ricardo Darín e Héctor Alterio (que já conhecíamos do também excelente “O filho da Noiva”, de Juan Carlos Campanella) e Cecilia Roth.
Alguns dirão que o filme é clássico. Pois é. Mas como classificar as inarráveis historietas (algumas em exibição) que são sugeridas naqueles jornais?
Quarteto, 6mai05

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