IL GATTOPARDO (O Leopardo), de Luchino Visconti, (ITA - 1963)
Gattopardo (Il) (O Leopardo) (1963), de Luchino Visconti (ITA)
Gostaria de chamar a atenção, em poucas palavras, para o essencial desta obra-prima fundamental da Arte do século XX, se disso for capaz. Em primeiro lugar para o facto de se tratar, felizmente, da versão italiana da obra (a primeira vez que é vista comercialmente em Portugal!). A versão americana tinha amputado o filme em mais de meia hora, dobrado os actores italianos, perdendo-se a riqueza dos diálogos que o autor havia criado, e foi duramente criticada pelo próprio Visconti, que considerou os cortes arbitrários e as vozes, da dobragem em inglês, pessimamente escolhidas.
Por outro lado o filme fornece uma magistral visão histórica, de um ponto de vista marxista, diga-se de passagem, da época de unificação italiana, nos meados do século XIX, com a vitória das forças populares comandadas por Garibaldi sobre os Bourbons, na atrasada e misérrima Sicília, onde existiam, ainda mais agudas se possível que no resto da Itália, as habituais enormes diferenças sociais (1860).
D.Fabrizio, Príncipe de Salinas (admirável interpretação de Burt Lancaster) e o seu reconhecimento da sua inadaptação às mudanças sociais ocasionadas pelo período revolucionário, de luta de classes, com novas classes sociais a ascenderem ao poder – uma burguesia em ascensão, que se apoia nas classes populares, para logo depois as atraiçoar, assim que substitui no poder a aristocracia a que pertencia o Príncipe de Salinas. O filme é nesse aspecto riquíssimo pelas suas várias figuras, inclusive da Igreja, representativas do tecido social da época.
Reconhecida por todos, a cena do baile de apresentação de Angélica (a belíssima Claudia Cardinale) à alta sociedade siciliana, filha de Sedara (Paolo Stoppa), o rico proprietário, representante da nova classe em ascensão, e noiva de Tancredo (Alain Delon), o jovem sobrinho de Fabrizio, que irá brilhar nos novos tempos que se anunciam, cena com mais de uma hora de duração, que encerra brilhantemente a obra, enquanto Fabrizio regressa a pé a casa, sozinho, sentindo que a sua época áurea terminou, e enquanto os militares do novo poder regressam ao quartel, para proceder ao fuzilamento de alguns dos populares revolucionários, entre os mais fiéis apoiantes de Garibaldi, procurando assim travar a revolução popular.
Mas existem outros grandes momentos de cinema nesta obra excepcional que o tempo não consegue envelhecer, entre as quais, o encontro de Fabrizio com o representante do novo poder, a ida da família dos Salinas para a casa de campo, o jantar no palácio de campo, em que Angélica volta a encontrar Tancredo.
Visto no domingo, às 14.30, com a sala quase cheia!
Nimas, 19mar06
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