DET SJUNDE INSEGLET (O Sétimo Selo), de Ingmar Bergman (SUE - 1957)
O SÉTIMO SELO (DET SJUNDE INSEGLET) (1957), de Ingmar Bergman (Uppsala, 14-Jul-1918 – Farö, 30-Jul-2007)
É, em minha opinião, talvez o mais belo dos filmes deste génio da sétima arte. Meditação sobre a vida e a morte, tem momentos de uma beleza inexcedível, também de comunhão entre a vida e a natureza. Apólogo medieval, tem como principais personagens, saltimbancos, que eram na Idade Média os artistas populares por excelência.
Já foram escritas milhares de páginas sobre esta obra-prima, absoluta, do Cinema. Não vou certamente dizer nada de novo, apenas dizer porque gosto muito desta obra.
Ao rever mais uma vez este filme, muito tempo depois da primeira das visões, julgo que no início dos anos 60, aos vinte e poucos anos de idade, há mais de meio século portanto, a sensação que tenho é que ele não envelheceu e continua a ser admirável sob todos os aspectos em que se aborde: o da linguagem, o da fotografia, magnífica a preto e branco, o do tema, humanista, denúncia das crenças irracionais e das violências que elas originam entre os homens e apelo ao que o homem tem de melhor – a vivência e a labuta comum, a fraternidade, o amor, a arte.
História medieval, em que a morte, sob a forma da peste, aterroriza os humanos e os torna ainda mais vulneráveis perante os que disso se aproveitam, sem escrúpulos, quase sempre em nome de pretensos deuses.
Regressado das sanguinárias cruzadas, infames invasões de rapina e conquista, o principal personagem (enorme desempenho de um grande actor, Max von Sydow) volta ao seu país natal, que encontra assolado pela pior das epidemias medievais, a peste, que mata a eito, vendo ameaçada a sua vida e dos que lhe estão próximos.
Em vão procura sobreviver, protegendo em última instância os que acha dignos de continuar a viver.
Não o conseguirá em relação à jovem, que os monges acusam de feitiçaria e condenam à morte horrível na fogueira, num pretenso exorcismo, responsabilizando a pobre adolescente pelas desgraças que acontecem. Block, chega a puxar da espada para a defender, pensando em atacar a horda de soldados pagos pelo poder religioso para consumarem a tarefa mas o escudeiro, mais realista, detém-no perante a total impossibilidade de sucesso. Há no filme uma outra cena capital, em que o espectáculo lúdico dos saltimbancos, a que os camponeses assistem entusiasmados, é interrompido pela horrível procissão dos monges conduzindo os flagelados pela doença irremediável, prenúncio do que irá acontecer à maioria.
Block, consegui-lo-à porém com o jovem casal de saltimbancos e o seu filho bebé, que representam para o autor, e para nós, a vida tal como merece ser vivida, no contacto com a natureza, no trabalho que dá alegria ao povo, através das arte de palco nas suas formas mais puras, misto de teatro e circo, levando-os a que abandonem a sua companhia.
Há uma outra figura que Bergman eleva que é a do escudeiro do cruzado, bem mais sábio que o amo. Um Sancho Pança de um pobre Quixote, regressado de objectivos errados (as “santas” cruzadas), que acaba atormentado pelas dúvidas existenciais, perante os crimes que nelas viu cometer, na terra santa, e ajudou. É um escudeiro sem medo, homem do povo, capaz de ensinar o seu amo. Ao acompanhá-lo ficará no entanto condenado a perecer também.
Bergman simboliza a luta de Block, o cruzado, e dos seus companheiros, perante as ameaças de morte pela peste, por uma partida de xadrez, jogo limite, que ele disputará com a Morte, até ao cheque-mate, que procura retardar mas nunca poderá evitar.
Não se julgue no entanto que neste filme, simbolizando a luta da vida contra a morte, não haja também alguns momentos de humor, nos comportamentos e relacionamentos humanos, aliás tão caros a Bergman ao longo de parte da sua obra, em especial de algumas das suas obras-primas, de que o maravilhoso “Sorrisos de Uma Noite de Verão” talvez seja um paradigma.
As cenas finais, extraordinariamente belas, nos campos escandinavos, banhados pelo sol primaveril, mostra o casal de jovens artistas, e o seu filho, sobreviventes à calamidade, a caminho de um futuro que acreditam possível. Ontem como hoje. Símbolo de uma luta por uma vida melhor, que continua. Emociona.
(visto no Nimas, 22-Jan-2014)
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