CRASH (Colisão), de Paul Haggis, (EUA - 2004)

CRASH (Colisão) (2004), de Paul Haggis, (EUA) 

"o tema desta vez é o racismo da sociedade norte-americana, nos USA, tratado com crueza e dureza, embora os personagens sejam olhados com humanismo e Paul Haggis procure desmontar os preconceitos raciais que estão na origem de comportamentos mais condenáveis de alguns dos seus personagens." 

O realizador é o argumentista do excelente "Million Dolar Baby", de Clint Eastwood, produtor, argumentista e realizador para a TV, estreia-se com esta obra atrás das câmaras no cinema, e muito bem. Filme mosaico, com várias pequenas histórias paralelas, que se entrecruzam, como em "Short Cuts" de Robert Altman, ou "Magnólia", de Paul Thomas Anderson, que são os exemplos recentes mais conhecidos. 



Mas o tema desta vez é o racismo da sociedade norte-americana, nos USA, tratado com crueza e dureza, embora os personagens sejam olhados com humanismo e Paul Haggis procure desmontar os preconceitos raciais que estão na origem de comportamentos mais condenáveis de alguns dos seus personagens. 

O filme mostra porém, como o comportamento humano, da generalidade da população, em sociedades baseadas na desigualdade, na exploração e no preconceito, - e que por isso se tornaram profundamente doentes, como a descrita no filme (passado na mítica Los Angeles) - , se torna capaz do pior ou do melhor, sendo disso paradigmático o personagem do agente de polícia representado por Matt Dillon (um dos grandes actores "nascidos" no famoso "The Outsiders" de Coppola), que brutaliza da maneira mais cruel a jovem esposa do personagem realizador de TV (apenas por ser negra) e acaba mais tarde por arriscar a vida para a salvar, esquecendo a cor da pele. 

Haggis acaba por nos falar, através de uma obra muito interessante, mesmo se sem grande complexidade, da nossa condição humana, responsável pelo que fazemos, que nos torna capazes dos mais elevados sentimentos e também das mais baixas torpezas, tudo dependendo dos nossos princípios, do meio em que vivemos, dos que nos rodeiam, da situação social com que deparamos, mas em última análise dependente também muito de nós próprios. Por isso, mesmo na noite social mais sombria e sem manhã à vista, há sempre quem não ceda, pensando nos outros, mesmo com o preço da própria vida. 

Claro que, quanto aos que usufruem injustamente dos privilégios, resultantes do seu poder económico, e tudo fazem para os manter, esses têm em geral perfeita consciência da situação e para eles não existem desculpas. 

E tudo isto contado por Haggis ao ritmo de thriller intenso, que não se consegue largar, e nos emociona. A não perder. 

PS: Fez-me lembrar (com as evidentes diferenças) as admiráveis histórias, de um grande humanismo, no romance e no conto, de uma personalidade maior da vida política e intelectual, recentemente falecido, Álvaro Cunhal, a quem mais de 250 mil pessoas quiseram nas ruas prestar a última homenagem e cujo exemplo de vida se irá perpetuar, suponho que enquanto houver homens neste universo. 

Corte Inglês, 8jul05

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