ATÉ AMANHÃ, CAMARADAS, de Joaquim Leitão / Manuel Tiago (2004)
1- NA TV
"Até Amanhã, Camaradas", de Joaquim Leitão, (POR-2004)
"Quanto ao romance é sabido que ninguém retratou tão bem esse “Exército de Sombras”, que durante décadas não deu tréguas ao fascismo e apesar das dificuldades da luta, das perseguições, espancamentos, torturas e assassinatos, de que foram vítimas durante o regime salazarista, estas mulheres e homens, acabaram por vencer, derrotando o fascismo e ajudando a libertar o país."
Obra em princípio para a televisão, vista no pequeno ecrã, sob o formato de série (6 episódios de 50 minutos cada) mas estreada em dois filmes de cerca de 150 minutos cada, o que, para a sua apreciação global é sem dúvida vantajoso, mas talvez implique a perda de espectadores normais da TV, mais habituados ao formato normal das séries – episódios mais ou menos curtos, transmitidos um por dia.
Obra em princípio para a televisão, vista no pequeno ecrã, sob o formato de série (6 episódios de 50 minutos cada) mas estreada em dois filmes de cerca de 150 minutos cada, o que, para a sua apreciação global é sem dúvida vantajoso, mas talvez implique a perda de espectadores normais da TV, mais habituados ao formato normal das séries – episódios mais ou menos curtos, transmitidos um por dia.
O realizador, o cineasta Joaquim Leitão, tem sido algumas vezes menosprezado porque a sua obra, até a este filme, se situava, no chamado cinema comercial, embora muito bem realizado. Mas eis que nos surge agora com uma obra ímpar, nesta adaptação do famoso e magnífico romance de Manuel Tiago, pseudónimo literário do dirigente comunista Álvaro Cunhal. Aliás, só a represália política impediu um ainda maior reconhecimento do valor, literário e não só – os desenhos –, da obra artística conhecida desta figura maior do nosso Século XX.
Quanto ao romance é sabido que ninguém retratou tão bem esse “Exército de Sombras”, que durante décadas não deu tréguas ao fascismo e apesar das dificuldades da luta, das perseguições, espancamentos, torturas e assassinatos, de que foram vítimas durante o regime salazarista, estas mulheres e homens, acabaram por vencer, derrotando o fascismo e ajudando a libertar o país.
Joaquim Leitão, com as limitações que uma adaptação de uma obra de arte, e particularmente tão carismática como o “Até Amanhã, Camaradas”, sempre traz (apesar das suas cinco horas de duração), conseguiu, em minha opinião, transmitir o essencial do romance de Manuel Tiago. Como linguagem fílmica o filme é quase perfeito, indo do intimista ao épico sem quebra de qualidade. E ambos os casos, consegue emocionar-nos.
É porém na forma como nos deu os diferentes retratos daquelas dezenas de revolucionários, mulheres e homens, em luta contra a opressão fascista, e pelas melhorias de vida de todo um povo, que as opiniões poderão eventualmente divergir sobre os méritos da adaptação. É difícil, senão quase impossível, reproduzir a complexa trama do romance, as análises políticas de comportamentos que lhe são subjacentes, numa obra destinada ao grande público. Mas no cômputo geral trata-se, em minha opinião, do melhor que se tem feito no nosso país.
Uma palavra final para a magnífica direcção de actores, de todo um conjunto das dezenas de personagens, embora algumas se destaquem obviamente, dado os papéis que desempenham. Como se o cineasta e seus actores conseguissem uma admirável sintonia com a obra que representavam. O que afinal não é grande surpresa, embora muitos tivessem nascido depois da Revolução dos Cravos, mas é sabido que, mais de trinta anos depois da sua eclosão, ela continua bem viva na memória e no imaginário da grande maioria dos portugueses, mesmo de muitos mais novos.
Visto na TV, 28jan05
2- NO CINEMA
TERÇA-FEIRA, 19 DE NOVEMBRO DE 2013
ATÉ AMANHÃ, CAMARADAS
Fui ver (e gostei muito!) a recente versão para cinema da adaptação para a TV, de 2005, realizada pelo cineasta Joaquim Leitão (Lisboa, 21-Dez-1956), com argumento de outro cineasta, Luís Filipe Rocha (Lisboa, 16-Nov-1947), de “ATÉ AMANHÃ, CAMARADAS”, obra maior, em minha opinião, da literatura portuguesa, por retratar, julgo que como nenhuma outra, a luta da Resistência Clandestina contra o fascismo. É em 1944 que se situa a acção do romance de Manuel Tiago, pseudónimo literário de Álvaro Cunhal (Coimbra, 10-Nov-1913 – Lisboa, 13-Jun-2005).
A propósito, devo dizer, numa opinião muito pessoal, que a Literatura tem para mim uma significativa vantagem sobre o Cinema, do ponto de vista da liberdade de interpretação pelo leitor/espectador. Será por isso que as adaptações ao cinema das grandes obras literárias raramente conseguem atingir o mesmo nível de qualidade. Ressalvem-se algumas excepções, como Kubrick / Nabukov, em “Lolita” ou Oliveira / Agustina, em “Vale Abraão”. Não se espere por isso que uma obra de inegável qualidade como é este filme de Joaquim Leitão consiga guindar-se ao nível da obra-prima que é o romance. Mas julgo que se trata de um belíssima obra de cinema, com uma notabílissima direcção de actores, de que não vou destacar nomes porque me parece haver uma grande sintonia entre eles e a obra que representaram e dá a sensação de terem feito o seu melhor e são todos muito bons! Obra que julgo nos consegue apesar de tudo dar o essencial daqueles retratos humanos que o romance nos oferece em toda a sua complexidade.
Para o espectador, a imagem que fica da obra, apesar da luta sem tréguas travada contra o fascismo, pelos militantes clandestinos do Partido Comunista Português, ilegal para o regime, luta que se salda por vezes por uma enorme repressão, sangrenta, impiedosa e desumana, contra quem não utiliza a violência e apenas encabeça as lutas pelas reivindicações de melhorias de vida e conquista de direitos inerentes à condição humana, a obra constitui um grito de esperança e não nos esqueçamos que se desenrola quando ainda a Segunda Guerra Mundial decorria (1938-1945), de esperança na medida em que os fascistas, mesmo prendendo, torturando, assassinando os resistentes mais destacados, nunca conseguem calar a revolta do povo, e novos elementos revolucionários surgem para substituir os presos e os assassinados pelos fascistas. Esta luta só iria terminar em 1974, com a vitória da Resistência e a eclosão da Revolução de Abril. E o filme também mostra, muito bem, que raramente há desumanidade entre os oprimidos, porque são superiores os seus objectivos, de transformação da sociedade, no sentido da justiça social, da liberdade, da igualdade e da fraternidade entre os homens.
Peço aos amigos que não deixem de ver a obra, embora ela esteja restringida a duas únicas sessões diárias, em salas diferentes, nesta grande urbe de um milhão de habitantes onde vivemos onde proliferam os cinemas “multiplex”, mas em geral com programações muito medíocres. Porquê?
Gostava de terminar com o parágrafo final de um belo prefácio sobre o romance “ATÉ AMANHÃ, CAMARADAS”, escrito por um dos maiores especialistas portugueses em Literatura, o professor universitário Óscar Lopes (Leça da Palmeira, 2-Out-1917 – Matosinhos, 22-Mar-2013):
“(...) Evidenciam-nos que a vida é inesgotável; repetindo Guimarães Rosa, diria que a lição do livro é a de que viver (ou Viver, com maiúscula) é perigoso. Sentem-no aqueles que inteiramente se comprometem a melhorá-la. E eles até mesmo nos ajudam a sentir que muito existe ainda sem nome, à espera de coragem, pois de coragem é, em grande parte, feita a capacidade de entender, de sentir a fundo, e de acertar.”
Nota:
Este texto foi escrito a pensar no Facebook e em quem nos lê e também nos Amigos que por lá se encontram, que sabemos que arriscaram a sua vida para melhorar a de todos nós. Tenho uma enorme admiração por eles. Afinal são eles os heróis da obra “ATÉ AMANHÃ, CAMARADAS”.
(publicado no facebook)

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